Alvinegros esqueçam a derrota (1 a 0) para Vasco no carioquinha deste ano. E curtam mais uma grande história do Glorioso
Blogueiro: Wellington Melo
ASSIM É O BOTAFOGO: Clube da história mais linda do futebol brasileiro. O Fogão é
o time que mais cedeu jogadores a seleção brasileira. Entre eles o
Marinho Chagas, Nilton Santos, Garrincha e tantos outros. Isso é Botafogo. O resto, é resto!
O purgatório da Bruxa
Com problemas de saúde, um dos maiores laterais da história do
futebol brasileiro lembra passagens dos grande tempos, como o chapéu no
Rei Pelé e a briga com Leão
Renan Damasceno - Estado de Minas
Publicação:
02/02/2014 09:06
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Marinho Chagas, ex-lateral esquerdo |
Natal –
“Prazer, Marinho Chagas.” A apresentação, um tanto quanto dispensável,
é repetida toda vez que o simpático senhor, de 61 anos, cabelos longos
e oxigenados e três terços no pescoço, encontra um interlocutor
desconhecido e disposto a ouvir uma de suas tantas histórias, que vão
do chapéu em Pelé logo em sua estreia com a camisa do Botafogo, no
Maracanã, à briga com o goleiro Leão depois de perder a disputa pelo
terceiro lugar na Copa do Mundo’1974. “Quando me vejo nos vídeos,
correndo, driblando em velocidade, as faltas que eu batia, não acredito
que sou eu”, disse Francisco das Chagas Marinho, o Marinho Chagas, na
tarde do domingo passado, pouco antes de entrar no gramado da Arena das
Dunas, que era inaugurada em Natal, para ser homenageado na cidade em
que nasceu, em 8 de fevereiro de 1952.
Um dos melhores
laterais-esquerdos da história do futebol brasileiro, digno herdeiro de
Nílton Santos, a Bruxa Loura foi do céu ao purgatório nas últimas
décadas. Revelado pelo Riachuelo, equipe de Natal ligada à Marinha, foi
trocado em 1969 por pares de chuteiras com o ABC, transferiu-se para o
Náutico e, em 1972, depois de brilhar numa preliminar nos Aflitos,
chamou a atenção do comentarista João Saldanha, que ligou para
Paraguaio, técnico do Botafogo, recomendando a contratação do lateral.
Aos 20 anos, o jovem desembarcou no Rio para defender o alvinegro
vislumbrando desfrutar tudo o que a fama e o sucesso tinham a lhe
oferecer. Tudo mesmo.
O Rio foi a consagração e a perdição para
Marinho, que hoje sofre do fígado e vários problemas de saúde em
decorrência dos exageros dos tempos de glória. Com o dinheiro da
aposentadoria, vive na Praia de Ponta Negra, sob os cuidados da
companheira, Patrícia, uma espécie de esposa, amiga, assessora e
secretária. “Tenho muita fé. Se não fosse a fé, eu teria morrido. Eu
tenho hepatite C, da minha geração quase todos foram embora. Alguns se
cuidavam, não bebiam. Outros, como eu, não”, explica Marinho, que no ano
passado ficou internado 10 dias na UTI, em Natal. “Aqui tem muito
churrasco de beira de praia e comi carne de porco. Tenho problema no
estômago, úlcera, gastrite nervosa. Aí, passei mal, mas já estou bem”,
conta o ex-jogador, que admitiu ainda tentar se livrar do alcoolismo.
Guardadas
as proporções, Marinho é o terceiro de uma linhagem de craques
atormentados do Botafogo, que teve ídolos como Heleno de Freitas e
Garrincha. O camisa 6 jogou quatro temporadas no alvinegro e, logo na
estreia, mostrou sua ousadia. “Botei (a bola) no meio das pernas do
Pelé, para ele deixar de ser besta. Também dei um lençol. Pelé, quando
colocava a bola na frente, ninguém pegava. Ele dominou e, quando olhou
assim, eu já tinha puxado por trás e dado um lençol. Daí ele veio e
falou: ‘Você é abusado, hein?’”
Uma das estrelas do Botafogo, ao
lado de Jairzinho e Dirceu, Marinho foi levado por Zagallo à Copa da
Alemanha’1974 com status de titular, deixando o tricampeão mundial Marco
Antônio (Fluminense) no banco. O Brasil terminou com a defesa menos
vazada, com Zé Maria, Luís Pereira e Marinho Peres, mas o lado esquerdo,
cujo titular avançava muito, era o mais vulnerável. As investidas ao
ataque lhe renderam o apelido de “Avenida Marinho Chagas”.
BRIGA COM LEÃO
O goleiro Leão já estava às turras com o lateral-esquerdo, que sempre o
deixava cara a cara com o ponta-direita adversário. Depois da derrota
para a Holanda por 2 a 0, na semifinal, a orientação, na disputa pelo
terceiro lugar contra a Polônia, era que Marinho não subisse ao ataque,
porque os poloneses contavam com o perigoso ponteiro Lato. E o gol que
custou o terceiro lugar ao Brasil foi construído exatamente dessa
forma. Leão chegou enraivecido ao vestiário e partiu para cima do
lateral.
“Toda derrota tem o seu culpado. Em 2010, foi o Júlio
César. Ele não teve culpa nenhuma, mas todo mundo fala que foi ele.
Toda Copa, quando o Brasil perde, é assim”, lamenta Marinho, que
atribui a briga aos ciúmes do goleiro. “As mulheres davam em cima de
mim, e o Leão com ciúme, parecia que queria me namorar, era ciúme. E
ele se achava boa-pinta, elegante, vaidoso. Mas, na minha simplicidade e
humildade, eu não tive culpa, não.”
Marinho acredita que o
episódio tenha lhe custado as convocações para as Copas de 1978 e 1982.
“Em 1978, fiz 28 gols pelo Fluminense e Cláudio Coutinho levou o
Edinho, que era quarto zagueiro, de lateral-esquerdo. Em 1982, era
campeão paulista, ganhei bola de prata, e Telê Santana levou Pedrinho,
que estava trocando o Palmeiras pelo Vasco. Acho que foram duas
injustiças. Era para eu ter jogado três Copas fácil, fácil.”
Depois
de quatro anos no Botafogo e dois no Fluminense, Marinho partiu para o
New York Cosmos, para jogar ao lado de Pelé, do alemão Franz
Beckenbauer e do holandês Johan Neeskens. Voltou e ainda teve boa
passagem pelo São Paulo. Peregrinou por Bangu, Fortaleza, América-RN,
pelo futebol alemão e norte-americano novamente, antes de encerrar a
carreira em 1988.
A popularidade lhe rendeu até a gravação de um
disco, com direito a clipe no Fantástico. Com o compacto Eu sou assim,
lançado em 1977 pela Copacabana, Marinho não repetiu o sucesso que
tinha no gramado e com as mulheres, mas um trecho da música-título
revela um pouco da personalidade do atormentado jogador: “Estou vivendo
a vida como ela é/ Soltando a tristeza que nunca deu pé/Eu não dou
bola para quem fala mal de mim/Eu sou, eu sou assim”.